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Vale Sagrado dos Incas e Ollantaytambo: Deslumbrantes.

Descemos uns 1000 metros depois de Cuyuni, mas o frio continuou. Em Urcos nos enrolamos um pouco e acabamos passando por dentro de uma feira com um trânsito muito doido em busca da entrada para Ollantaytambo, nosso destino. Sem GPS a viagem é meio que "pelo rumo". Mais alguns quilômetros rodados e... chuva! Dessa vez resolvemos não encarar a água gelada e paramos em uma espécie de garagem na beira da estrada lá ficando na espera da chuva dissipar. Nós e umas galinhas arrepiadas!

Interessante como nesses caminhos dificilmente encontramos pessoas nas ruas. Um homem apareceu nos oferecendo pousada em uma morada cheia de casas velhas e uma senhora tentou nos vender toucas de alpaca. Ali vimos duas crianças despreocupadamente no meio da pista, sem a vigilância de adultos o que nos alarmou. Uma delas atravessou a pista e ficou próximo a nós todo o tempo. Uma outra, de no máximo dois anos, andava pela pista até que alertamos a senhora das toucas para tirá-la. A pilotagem teria que ser muito mais cuidadosa depois disso!

Tempo melhorando, seguimos mais uns quilômetros e resolvi parar num local com uma placa de cardápio em um pequeno comércio e vários animais ao fundo. E também havia um banheiro limpo, muito importante a essa altura da viagem. Tinha até papel higiênico! Quem já se aventurou por esses lugares sabe a importância disso.

Nem tive dúvidas e resolvi que era ali mesmo que eu iria provar o "cuy al horno", nosso porquinho da índia assado. Confesso que estava curiosa desde a saída do Brasil. E gostei. Claro que não se parece em nada com carne de porco, se assemelhando mais a algumas caças que já havia experimentado no Brasil, em restaurantes do Mato Grosso do Sul. Muito bem preparado e temperado, apesar da aparência poder assustar algumas pessoas mais impressionáveis. E acompanhado de um pimentão picante recheado que estava uma delícia e um macarrão caseiro sem molho. Bueno resolveu provar a truta, que veio com o mesmíssimo acompanhamento.

Ali também provamos pela primeira vez o chá de coca. Ele foi servido junto com a comida. É comum na região o chá ser servido acompanhando a refeição. Aqueceu o frio e ajudou com o sorochi. Só não melhorou a cara de cansada!

A família dali também comercializa diversos tipos de queijos e tem uma criação de animais. Pensei em provar o queijo de alpaca mas já estava bastante satisfeita depois do enorme prato que havia consumido.

O sorriso do garoto me encantou...

Continuamos na estrada até próximo a Pisac. Pegamos uma estrada com placa de Cusco e paramos em um posto de gasolina para abastecer. Mas nosso destino não era Cusco e por ali levaríamos mais uma hora pois teríamos que passar por dentro daquela cidade e dar uma volta maior. Fomos orientados a voltar uns três quilômetros para pegar a estrada pelo Vale Sagrado.

Entramos no Vale de Urubamba, também chamado de Vale Sagrado dos Incas, que se estende de Pisaq a Ollantaytambo. Fica entre altíssimas montanhas e a paisagem é deslumbrante. A estrada estreita vai serpenteando pela base das montanhas e a cada curva se descortinam paisagens belíssimas, com encostas férteis e cheias de vegetação.

O Vale Sagrado dos Incas nos Andes peruanos está composto por numerosos rios que descem por pequenos vales e possui numerosos monumentos arqueológicos e povoados indígenas. O principal rio é o Urubamba, que dá nome ao vale. Ali se formou o celeiro dos Incas, em terras muito produtivas e cortadas de rios que garantiam a fartura.

Já estava escurecendo e faltavam poucos quilômetros para o objetivo. Demos uma paradinha em Calca, na porta do Museo Inkariy e fizemos umas fotos. Pena que já estava fechado.

Encontramos um casal com filha aí na porta do museu que fez questão de tirar várias fotos das motocicletas e nos deram mais informações sobre a estrada. Enquanto isso, começou uma chuva fina.

Quando chegamos em Huayabamba já estava escuro. Quer dizer, já estava um breu e chovia muito. Sem visibilidade e cansados, parecia que o tal destino não chegava nunca. Quando enfim avistamos a placa de Ollantaytambo ao invés de alívio, outra surpresa nada agradável: A entrada da cidade é uma ladeira íngreme de pedras roliças! Com a chuva, virou uma ladeira de sabão. Para piorar, um intenso trânsito de vans e ônibus... Socorro! Confesso que subi rezando ( e xingando o Zé Ronaldo, que me indicou a cidade mas esqueceu de me avisar desse pequeno detalhe) até o único acostamento no alto da ladeira, em uma curva onde se iniciava a rua de acesso à cidade.

Quem pilota Harley Davidson sabe como ela se comporta em um ambiente desses. É como montar num cavalo picado por vespa. Molhada e cansada, pedi para Bueno procurar primeiro uma pousada e depois vir me buscar. Olhava desesperada para aquelas pedras pensando que ainda teria que ir longe sobre elas. Para minha sorte, ele encontrou uma pousada com vaga e estacionamento logo à frente.

Banho, roupas secas e fome. Saímos para jantar de tuc-tuc pois ainda chovia muito e voltamos logo para descansar. Somente no dia seguinte que pudemos ver a beleza do lugar onde estávamos! A cidade fica encravada em um estreito vale ente belas montanhas.

Essa é a estreita estrada que dá acesso à ladeira que leva até a cidade, através do vale. Pilotar nela à noite não foi saudável, quase às cegas.

A estrada de acesso acaba na ladeira de pedras ao fundo. De dia, com sol, nem parece o tormento que foi subi-la na noite anterior. Mas chegamos em um horário de intenso trânsito (as vans e ônibus entram e saem durante o desembarque de passageiros do trem em grande quantidade) e a estrada de pedra é muito escura e íngreme, além de ser à beira de um barranco.

A beleza do sol sobre as montanhas que cercam a cidade.

Pousada simples, mas muito confortável.

A ideia inicial era ficar na cidade somente um dia e visitar Machu Picchu a partir dela. Daqui se pega o trem para Águas Callientes (Machu Picchu Pueblo). Mas o tempo ficou muito nublado e nos convenceu a esperar o dia seguinte, para ver se o sol aparecia.

Ollantaytambo está a 2.800 metros acima do nível do mar e fica a 60 km de Cusco. É considerada a cidade mais Inca do Peru por ser a única cidade que ainda é habitada e preserva aspectos da arquitetura original e possuir ruínas impressionantes dessa cultura, e onde ainda são mantidas as tradições dos povos antigos.

Fomos visitar a "casa vieja", onde se preservam utensílios e costumes dos Incas e em cujo exterior há uma feirinha de lembranças peruanas

Nos tempos incas antigos, a tradição era manter-se os crânios dos antepassados dentro de casa, para proteção.

El Ekeko, boneco da fartura Inca, presente no tanto folclore peruano quanto no boliviano.

Aqui se criam "cuys" (porquinhos da índia) para alimentação como outros povos criam galinhas.

Encravada em um estreito vale, Ollantaytambo tem ruas estreitas e belas construções. Na praça central, ou Plaza de Armas, se concentram restaurantes, pousadas e a administração local. Dali desce a rua que leva até a estação de trem para Machu Picchu Pueblo (Águas Calientes), a aproximadamente 500 metros.

A água que corre por esses canais por toda a cidade é limpíssima!

Encontramos uma igreja católica próxima à Plaza de Armas. Então, entrar e agradecer!

Gostamos tanto do local que resolvemos ficar mais um dia. Tinha muito o que ver e aprender aqui. O povo é muito simpático e a gastronomia ótima. A Plaza de Armas é rodeada de bons restaurantes e cafés, onde músicos independentes se revezam em apresentações em troca de gorjeta (aqui, chamada de propina).

Conhecemos um grupo de simpáticas senhoras australianas durante o jantar e algo inusitado aconteceu: Bueno aproveitou o violão do músico que estava se apresentando para cantar uma música para mim ("Como é Grande o Meu Amor por Você") e elas pediram que eu traduzisse a letra para o inglês. Ao final, encantadas, vieram com uma quantidade de reais (elas haviam estado no Brasil dias antes) que achei que era para trocar por soles. Até que uma delas explicou que era para que ele me comprasse um presente, pois ficaram emocionadas com a declaração de amor, e não aceitavam recusa!

Continuando meu turismo gastronômico, não poderia deixar de provar os verdadeiros pisco e ceviche peruanos. Saborosa também a carne de alpaca grelhada (a draga aqui gosta mesmo de tudo!).

A cidade é muito bonita, com arquitetura das casas bem próxima da original. Nela se encontram ruínas interessantes, como a fortaleza Araqama Ayllu (O império inca se organizava em ayllus que tinham a seu cargo uma extensão de terra que lhes servia para alimentarem-se), muito íngreme e fica em uma posição estratégica no Vale Sagrado. O local ainda tem preservados os antigos centros administrativos, observatórios militares e zonas de armazenamento de alimentos.

As ruínas do Templo do Sol dominam a paisagem com um impressionante trabalho de encaixe em monolitos gigantescos trazidos pelos Quechuas de uma montanha do outro lado do vale.



O tempo muda repentinamente e a temperatura aqui cai bastante no fim da tarde. Aproveitamos para visitar a feira de artesanato próxima às ruínas.

Perdi meu casaco interno da jaqueta HD na praça e só percebi quando começou a chover e esfriar. Horas depois, um policial viu Bueno perguntando pelo casaco nos locais que passamos e informou que a mesma estava guardada no setor de perdidos e achados da espécie de administração local. E ele estava lá aguardando por mim! Cada vez gostando mais de Ollantaytambo!

Fomos também ao Mercado Municipal, conhecer onde os locais faziam suas compras e se alimentavam. Compramos toucas de lã de alpaca por dez soles (na feira de artesanato do templo do sol custavam setenta!) e aproveitei para comprar umas folhas de coca, algumas frutas e queijo de alpaca (este uma delícia, picante e adocicado). Nesse local você sente de perto a cultura local, com as vestimentas típicas, o linguajar quechua e os alimentos tradicionais. Muito legal!

No fim do dia fomos comprar as passagens para Águas Calientes e conhecer a estação. Voltamos de tuc-tuc, cansados de tanta caminhada. No dia seguinte faríamos nossa visita a Machu Picchu.

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